FURA FURA

“O dia que eu morrer, eu quero meu caixão no palco, minha roupa de palhaço e meu pandeiro de lado… porque sei lá se São Pedro abre a porta pra eu tocar um pandeirinho pra ele.” – disse Fura-fura, em entrevista cedida para Lívia Mattos, para o projeto Música no Circo.

Fura-fura nasceu em Coremas, Paraíba, em 1942, longe das lonas de circo. Criou-se em Santa Cruz do Inharé/RN, onde teve suas primeiras experiências no picadeiro. Seguindo a profissão de bancário, nem sonhava em trabalhar no circo,  até a morte da sua primeira esposa. Desde então, caiu no mundo, começou a tocar em filarmônicas, a apresentar-se  no carnaval, iniciando a sua carreira artística como músico. E por essa via, entrou para tocar no circo, começando pelo Circo-teatro Bergson, de Raimundo Soares – afeiçoado pela irmã do mesmo. A partir daí, seguiu a sua vida rodando em circos pelo país, como o Circo Vostok, Circo Águias Humanas, Circo Continental, Lemure Circo, Circo Stankovich, dentre outros.  Aos 24 anos, começou a trabalhar como locutor de pista do circo,  na cidade de Valença/BA.  Aconteceu de um dia, com o circo lotado, o palhaço se embriagar e não ter condição de levar a matinê. E assim ele foi convocado para substituí-lo. Para ter coragem, tomou dois dedos de cachaça, passou minancora na cara, pinicou “creon” – parecendo que estava de catapora – dando início à carreira longeva do palhaço Fura-fura.

A sua fama foi se espalhando,  o nome foi crescendo, de forma que circos de outros estados chegavam a disputar a sua contratação – segundo ele, foi negociando o passe, como jogador de futebol.  Fura-fura trabalhou mais de 30 anos no circo de outras pessoas, como artista contratado, até que, na cidade de Limoeiro, resolveu montar o seu. Chamou os sete filhos, que viviam com ele numa barraca, e saíram mato adentro com facões, para começar o circo.  E assim, com caibro doado, tendo um lençol como bilheteria, o pandeiro como trilha musical e a rumbeira Flávia Carvalho como artista, tocou o seu primeiro circo. Esse circo era sem cobertura, popularmente conhecido como “tomara que não chova”. O circo de Fura-fura começou com o nome de Formosa Real Circo, depois para Circo Novo Horizonte, seguindo como Circo Barcelona até hoje. Pra Fura, o palhaço fazia o nome dele levando comédias – peças cômicas – com um repertório de qualidade, bem executado. No campo do circo-teatro, também atuava como ator nas peças dramáticas.  Dentro da sua atuação, teve sempre grande destaque também com a sua apresentação de dupla, no qual levava emboladas de circo com uma parceira de cena, conduzida pelo pandeiro.  A parceira da dupla que segue com ele até hoje é a Baianinha, sua esposa. Desde que ela teve um derrame, Fura-fura mora em um apartamento do “Minha casa, minha vida,” em Feira de Santana. Mas não aguenta ficar sem ir ao circo – agora guiado por seus filhos. Na sua fala:”O lugar da gente é o circo. Não existe, pro artista circense, lugar melhor que o circo.”