APRESENTAÇÃO

Respeitável Público!! O espetáculo, que não pode parar, parou. Aqui estamos para falar de circos e circenses itinerantes da Bahia, nesse contexto pandêmico que nos assola – sendo impossível desconsiderá-lo. O espetáculo é a mola propulsora desse modo produção de vida e arte, que se dá através da itinerância circense. É a partir dele, na sua relação com o público local, que se parte, que se chega, que se demora numa praça. O arco de emoções contrastantes, que uma sequência de números provoca, se dá pela reação de vocês, respeitável público, ao que acontece no picadeiro. Desse jeitinho que te digo: no circo itinerante, o público compõe o espetáculo, junto com toda trupe responsável. Aqui estamos falando de presença, que para além da fundamental questão financeira, fala dessa experiência que envolve o circo numa cidade. Desde a sua chegada na praça, atiça a curiosidade da localidade por esse modo de existência, bem como pelos artistas que por lá estarão durante determinado tempo. A montagem é por si só um acontecimento, a partir do qual brota um espaço cultural peculiar e temporário – cria-se um novo território, que, mais do que ilha, constitui-se como ponte. Observando, parece que quanto menor a cidade ou povoado, maior é o impacto e a relação que se cria com esse entorno. Bem como, quanto menor o circo, mais poroso será à localidade. 

Voltando à presença… ir ao espetáculo, então, é uma experiência sinestésica! Recupere na sua memória, respeitável público, os cheiros do circo… a pipoca quentinha, o algodão-doce, a fumaça, diversos elementos que vão compondo, em camadas, o aroma do ambiente. Com a maçã do amor, a batata-frita, o cachorro quente, atravessamos-nos mais ainda pelos sabores circenses. No campo imagético, do que se vê, a arquitetura é um universo riquíssimo, somado às luzes, figurinos e a concepção estética de cada número.  Os ouvidos são um portal para a música desenhar os movimentos corporais dos artistas, ampliar os gestos e  as emoções, dialogando com a ação do artista no picadeiro – mesclando-se com as pontuações do mestre de pista, do locutor e do palhaço. É pela música que se anuncia o circo pelos carros de som, divulgando o espetáculo, bem como é também com ela que se esquenta o público, antes de começar o espetáculo.

A arquibancada, as cadeiras, as guloseimas, os brinquedos à venda, os artistas que recepcionam e se despedem, é todo um arranjo de possibilidades de sensações ao alcance das mãos. Agora pense numa versão online de tudo isso? Pense em como acessar e ser acessível à lógica de produção de espetáculos na pandemia? Complicado, respeitável público, diria que intransponível. Circos e circenses seguem na resistência – que já era desafiante antes mesmo dessa Covid-19 nos atormentar. Muitos tiveram que desistir.  Muitos seguem. Vejamos!

Esse espaço virtual é justo para trazer os circos e circenses itinerantes para mais perto de vocês, do jeito que agora nos é possível. Vamos aproveitar para provocar outra forma de proximidade, que não substitui – e não pretende substituir – a experiência, mas diz sobre quem dá continuidade a ela. Logo de entrada, na marquise da nossa lona, convido vocês para acompanharem a retomada do Circo Real Xangay, após 11 meses parado em Serrinha/BA, bem como imergir na história dos seus integrantes e na sua estrutura. Na sequência, veja um pouco do panorama dos circos itinerantes que estão na Bahia – ou costumam atuar no estado. Adentrando um pouco no modo como se dá o circo brasileiro – para além das famílias imigrantes ou grandes ícones consagrados – nos debruçamos, a partir de entrevistas realizadas nos últimos 9 anos, sobre a vida e a narrativa de vida de alguns mestres e mestras circenses, que têm ou tiveram forte atuação na Bahia. Depois vocês podem conferir e colaborar com a campanha “Viva o Circo Brasileiro”, que visa o apoio direto para alguns circos do país, nessa situação pandêmica. E pra fechar, temos a biblioteca virtual, que te fornece atalhos para materiais e pesquisas sobre circo, produzidos na Bahia – e otras cositas más!

Esta ação faz parte do projeto “Narrativas itinerantes: circos e circenses da Bahia”. O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.

Livia_foto

Lívia Mattos é acordeonista, circense, cantautora e socióloga. Artista da cena,  começou a sua história no picadeiro, seguindo também pelos palcos como instrumentista, performer e frontwoman. Com o seu trabalho, apresentou-se em festivais pelo mundo como “Accordions Around the World”,  “International Macau Parede”, em Macau; “Akkorden Festival Wien”, em Viena; “Sommerwerft Festival” , em Frankfurt; dentro outros festivais Brasil afora. Integrou a Companhia Picolino (BA), fundou a “Fulanas Cia de Circo”(BA), bem como a Cooperativa de Circo da Bahia; integrou o grupo Acrobático Fratelli (SP) e seguiu seu caminho autoral no circo e na música. Pesquisadora sobre a música no circo no país, a socióloga  prepara documentário longa metragem sobre a temática, através do Rumos Itaú Cultural, advindo de 9 anos de registros e pesquisa.  A partir dessa interface música/circo, vem desenvolvendo trabalhos como “A Sanfonástica Mulher-lona”, “As Trigêmeas”,  “Mono Amour”,  “Sanfona Aérea” e  “A Lira da Lona”. Atualmente, é mestranda em Artes, pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), dando seguimento à pesquisa sobre a interface entre essas linguagens.

FICHA TÉCNICA

Projeto:

Idealização, pesquisa e textos: Lívia Mattos
Produção executiva: Sanfonástica Produções
Desenho e execução de site: Bruno Vilela
Identidade visual: Igor Souza
Consultoria jurídica: Luiza Vassalo
Assessoria de imprensa: Titita Dornelas

Registro Circo Real Xangai:

Imagens: Gabriel Teixeira
Áudio: Moisés Augusto
Montagem: Guta Pacheco
Direção e textos: Lívia Mattos

Sessão “Circos”:Pesquisador colaborador: Benedito Oliveira / Assistente: Ingrid Miranda
Materiais e fontes: Acervo da pesquisadora Alda Fátima; entrevistas por telefone e whatsapp.
Sessão “Circenses/ Viva o Circo Brasileiro/ Biblioteca Virtual”:

Acervo, textos e organização da pesquisadora Lívia Mattos

Agradecimentos:

FUNCEB
Alda Fátima
Wilma Macedo
Tiago Tao
Rafael Martini
Brenda Carlos
Carol Quintanilha
Mário Bolognesi
Liká Rosa
Reginaldo Carvalho