PÉ DE FERRO

José André da Silva, o nosso querido Pé de Ferro, teve a sua trajetória circense marcada pelo seu talento enquanto ciclista acrobático e músico. A entrevista com esse mestre foi realizada em 2015, no alto dos seus 79 anos, em Camaçari/BA. Quem quiser conferir uma belezura de narrativa sobre sua vida, pode acessar também esse texto de Verônica Tamaoki, feito a partir da entrevista que ela fez com Pé de Ferro, em 1985, junto com Anselmo Serrat, disponibilizado no portal Circonteúdo: 

https://www.circonteudo.com/fabricante-historia/jose-andre-da-silva-o-pe-de-ferro/

Pé de Ferro nasceu em Vitória do Santo Antão, em Pernambuco, no ano de 1936. Logo cedo, aos 7 anos, mudou-se para Recife, onde começou a trabalhar como vendedor e  como ajudante de pedreiro. Na adolescência, conciliava o seu ganha-pão com a sua paixão pelo ciclismo, alugando a bicicleta de Seu Noé – já que não tinha condições de comprar uma. Seu Noé tinha um depósito de bicicletas, e vendo o talento de José André para o ciclismo, apelidou-o de Pé de Ferro.  Aos 17 anos começou a se dedicar à corrida de bicicleta, realizando a sua primeira competição aos 18 anos. Já principiou ganhando prêmio e a partir daí se sucedeu uma série de competições, com dificuldades, trunfos e persistência. Como não conseguia ganhar dinheiro por esse caminho – mas apenas como pedreiro – acabou cansando e desistindo. Inspirado por um amigo que veio contar o que os artistas faziam no circo que apareceu no Recife – que eram os Irmãos Temperani – Pé de Ferro começou a tentar a fazer equilíbrios na bicicleta, mesmo sem ele nunca ter ido ver o tal número. Assim, começou a fazer praça, montar roda e passar a mala para se remunerar.

Foi desenvolvendo técnicas e aparelhos, como a bicicleta que desmonta e o monociclo alto, bem como foi aprendendo as manhas do fazer artístico.Depois, começou a trabalhar em circos, por uns dois anos, até que a marca de bicicleta Monark convidou Pé de Ferro para que ele trabalhasse para ela, representando-a. O trabalho era bem cansativo, muito sozinho, cada hora em um canto. Pé de Ferro cansou, voltou a trabalhar um pouco de marreteiro e fazia shows em usinas e salões pelo nordeste. Logo montou o seu primeiro circo próprio, que de início, era um pano de roda, sem cobertura. Mas depois de um tempo, conseguiu a estrutura de lona. Oscilou ainda, entre ter o seu próprio circo e trabalhar para o circo de outras pessoas. Pé de Ferro também foi professor do Escola Picolino, assim como Pinguim, Zé Maria, Dona Neide e Tarzan, por muitos anos, também sendo responsável pela fabricação de aparelhos.

Ao longo da sua trajetória, Pé de Ferro foi se desenvolvendo também como músico, especializando-se no cavaquinho e na manola – também conhecido como violão tenor. Juntava a sua habilidade de ciclista acrobático com o seu talento musical, tocando equilibrado no monociclo. Um momento marcante dessa junção, foi no carnaval de Salvador – acredita que por volta de 72 – no qual ele descia e subia, do Campo Grande à Praça da Sé, tocando manola no monociclo alto. Em seu circo próprio,  Pé de Ferro compunha o “conjunto musical”do circo, sempre com um baterista. Em 2015, quando essa entrevista foi feita, o Circo de Pé de Ferro estava como Circo-bar, em Camaçari, sem apresentações artísticas. Pé de Ferro estava morando num trailer, em terreno próprio, acometido por glaucoma. Atualmente, ao que se tem notícia, mora com uma de suas filhas em Salvador.