PINGUIM

Pinguim é palhaço e motorista de circo – mas também foi trapezista e malabarista. Aprendeu a tocar piano de garrafa observando o seu pai. Calcula que já trabalhou em uns vinte circos, dentre eles, o Circo Vostok, Circo Veneza, Circo Orlando Orfei, Circo Futurama, Circo Arizona e o Circo Mágico Alakazam. Também trabalhou no Circo Picolino, começando pelo serviço de limpeza e se estabelecendo como professor. Montou o seu próprio circo em Serrinha/BA, onde o encontramos para entrevista, em 2017. Nas suas palavras:

“Meu nome é Ivanilson Oliveira da Silva, o artístico é Pinguim. Nasci dentro de um circo. Quando eu nasci, o circo estava aqui na Bahia mesmo, em Queimadas – mas sou registrado em Ubaitaba, no sul da Bahia. E meus pais já são falecidos. Minha mãe não era de circo, conheceu meu pai e andou em circo pelos tempos… e é assim. Eu nasci dentro de uma barraca de circo mesmo, sou circense, né? Tanto eu, quanto todos os meus irmãos. Eu agora sou o palhaço Pinguim, comecei com dez anos de idade, trabalhando de palhaço, entrando pra ajudar os outros palhaços, mas já de palhaço. E eu hoje tô com cinquenta e seis anos, minha profissão: palhaço. Nos meus documentos, tudo o que eu faço, tudo eu boto assinatura de palhaço… aí falam assim: “E aí, qual é sua profissão?”, eu digo: sou circense, né? Aí tô com esse circo aqui meu, o Play Circo.

 Eu vendia doce dentro do circo, que antigamente… hoje em dia que tem lanchonete no circo, né? Mas antigamente eu vendia doce, botava no tabuleiro aqui na frente com as balinhas e saía: ‘Olha o doce! Olha a bala!’, dentro do circo. Aí quando foi com uns dez anos de idade, comecei a entrar no picadeiro. De um a dez anos era só olhando. Com doze, treze anos, comecei a dar entrada de palhaço mesmo, que é o palhaço que conta piada… aí, eu já com dezesseis anos, comecei no trapézio, nos vôos da morte.

Fazia ‘tono’ de vôos – que é o palhaço que faz a alegria lá em cima, no trapézio, né? Depois comecei a partir pra baixo do picadeiro, que é com piada, esses negócios… e fui indo. Mas em circo eu já fiz muitas coisas… fiz malabares, parada,  trapézio, é… vôo da morte. Só que eu me aperfeiçoei mais no palhaço. Antigamente não tinha o palhaço de entrada, tinha o ‘suerê’: o ‘suerê’ é quando trabalham dois palhaços, três palhaços, quatro palhaços, né? Fazendo mais a palhaçada muda, só em jogo de cena, mímica, aí vai… imitando passarinho, aquele negócio – isso é o circo grande. Aí o circo pequeno é o palhaço de entrada, que fica mexendo com o pessoal, aquele negócio. Hoje em dia, acho que mudou tudo. Mudou o circo e até o público que vem pro circo – também é totalmente diferente daquele… Quando você quer fazer um negócio como era antigamente, o povo não gosta -você nota que o povo não gosta. Aí a gente tem que acompanhar a platéia. Quando eu vou trabalhar de palhaço, eu observo bem isso. Mudou, até a classe jovem, hoje é diferente… você tem que estar mexendo com o pessoal aqui na bancada. E esse circo hoje em dia é tudo assim, diferente. Não tem mais aqueles negócios que tinha antigamente, né… as dançarinas não tem hoje, não tem as mulheres cantando ali em cima, rumbando, não tem a rumba… aí a rumba eles já fizeram diferente: se tiverem dez mulheres no circo, entram as dez de uma vez só,… bota uma música dessas novas de hoje e ela começam a dançar ali tudo, num ritmo só, igual essas dançarinas do Faustão.”

” Se eu moro dentro duma casa, eu fico doido, agoniado.. não durmo direito não. Já dentro de uma barraca de circo, eu durmo à vontade. É a vida da gente, né?! Eu gosto, eu sou apaixonado por circo.”