Atuou como palhaço, mestre de cena e músico, em diversos circos pelo país. Considera-se tradicional de circo, por ter nascido em um e por ter herdado isso de seu pai. Tem certo saudosismo pelo “circo de antigamente” e por equipamentos como a radiola. A entrevista foi realizada no circo do seu irmão, Pinguim, em 2017. Segue abaixo uma seleção transcrita e editada.
Filho de circense, Tarzan nasceu e se criou no circo. Veio ao mundo em Currais Novos/RN, numa barraca de circo. Perdeu a mãe muito cedo, mas seguiu trabalhando com o pai, até os seus 16 anos – quando seu pai faleceu. Recebeu a notícia da morte de seu pai pouco antes de entrar no picadeiro, tendo que trabalhar primeiro, para depois chorar. Seu pai era palhaço, secretário, tocava piano de garrafa e morreu por causa da bebida, com 56 anos. Nas palavras de Tarzan: “Todo circo que a gente chegava, meu pai saía por causa de bebida. Terminamos virando mendigos… a gente dormia jogado em porta de colégios. Dormi debaixo de ponte muitas vezes.” Tarzan acompanhava seu pai no número de piano de garrafa – batendo numa caixa de papelão – e entrava na palhaçada com ele.
Tarzan é o apelido de Ivanilson Silva, nome quase idêntico ao do irmão Ivanilson Oliveira da Siva, o Pinguim. Como palhaço, é conhecido como Pingoleto e considera que ser palhaço é um dom – não tem escola pra isso. No picadeiro, ele atuou como palhaço e como músico, acompanhando números musicais ou cantando repertório de seresta de Bartô Galeno, Milton César, Jerry Adriani e Vando. Também mestrou cena pro seu irmão, Pinguim. Atualmente, tem se dedicado ao trabalho de compositor e, por não saber escrever, decora todas as suas canções – como sempre decorou o seu repertório de músicas… ouvindo. Num discurso saudosista, Tarzan sente falta do tempo de outrora… “tempo bom pro circo”. Lembra sobre a comédia, o circo-teatro e a recepção dos palhaços nas cidades, em descompasso com o que se passa na atualidade:
“Hoje aqui, se a gente fizer uma comédia, o pessoal começa a sair de dentro do circo, mesmo que a comédia seja boa. Você começa a puxar uma comédia, pra terminar a segunda parte do espetáculo, eles não tem paciência de ficar. Antigamente era gostoso demais. Antigamente o palhaço entrava aqui e agradava… por que? Porque o povo prestava atenção. Hoje o palhaço entra aqui e o cara já começa a gritar o nome alí… Então você tem que entrar, hoje, no sistema que está hoje. Já chega mexendo com um alí, mexendo com outro, mexendo com outro, porque se não… Acabou teatro também. Antigamente, as cortinas do circo que eram chamadas cortinas caixão. Na hora do espetáculo elas levantavam e quando era na segunda parte, na hora do teatro, baixava tudo – que era pra montar o cenário do teatro, pra poder finalizar o espetáculo com aquela peça teatral. Hoje não tem mais. Hoje acabou teatro, quase circo nenhum mesmo faz teatro.” Tarzan trabalhou em comédias com Pinguim, e em peças de circo-teatro com a madrinha, como “A Louca do Jardim” e “A Paixão de Cristo”. Trabalhou em vários circos, como o Circo Veneza, Circo Mexicano, Circo Arizona, Circo Fantástico, Circo de Munique, Circo Vostok, Circo Garcia e Teatro Canarinho. Montou o seu circo próprio em 1994, em parceria com o seu cunhado. Depois seguiu sozinho com o seu circo, e, da data que fizemos a entrevista, fazia um ano que ele estava no circo do irmão. Deixou o seu circo, mas deseja remontar, para ter independência. Considera-se tradicional de circo, por ter nascido em um e por isso ter vindo de seu pai – que na verdade não era de circo – segundo ele, era índio, mas se tornou de circo. Tem grande paixão pela música, sempre inventando possibilidades de trabalhar com ela, dentro e fora do circo:
“Eu canto na minha banda, que na verdade não é banda, é um playback: a banda “Bonde do Fedor, a Catinga do Arrocha”. Então é uma banda fundada e afundada por mim. Eu fundei e afundei porque dispensei os músicos e fiquei só com CD, entendeu? “