ZÉ MARIA

IN MEMORIAN

A entrevista com Zé Maria foi a primeira realizada por Lívia Mattos – idealizadora do projeto – feita dia 04/02/2011, no bairro de Cajazeiras, em Salvador/BA.  Um grande mestre, que nos deixou em outubro de 2016, mas que nos legou sua grande contribuição para o circo brasileiro, deixando diversos artistas herdeiros da sua arte.

A história de Zé Maria com o circo começou aos 14 anos de idade, quando ele morava em Bragança/PA – do lado de Belém – onde nasceu. O Circo Íbis estava na cidade, com cobertura de algodão encerado, pois naquela época era difícil lona de nylon, segundo ele.  Invocou-se com o circo e foi visitá-lo, ainda no período da manhã. Lá encontrou Valkey Lamour ensaiando número de trapézio e dizendo que precisava de alguém pra fazer aquilo. Zé Maria nunca tinha feito aquilo, mas se jogou pra fazer, e, por seu potencial,  foi convidado pra viajar com o circo. Fugiu de casa com “três roupinhas e uma botinha”, pegando um barco à vela para São Luis do Maranhão. Nunca mais voltou. Nunca mais viu ou teve noticia da família. Foi a primeira vez que tinha visto um circo… e do circo não mais saiu. Lembra que este circo era pequeno, com um “espetaculuzinho” e uma comédia chamada “Se o Anacleto Soubesse”.  Chegando no Maranhão, ele, que achava que só seria artista, foi colocado pra encher dois tonéis de água todo dia, para os artistas tomarem banho. E ainda tinha que lavar as roupas das filhas do dono e passar. Mas já estava fora da sua cidade e não tinha pra onde correr mais.

Foi um mês nesse sistema até precisarem dele pra fazer o double trapézio, mas, segundo ele: “eu continuava não sendo artista, continuava sendo empregado deles”. Foi aprendendo as técnicas treinando o que via, de madrugada, quando ninguém iria censurá-lo. Ainda em São Luís do Maranhão, o Circo Fekete chegou nos arredores e o proprietário estava procurando gente pra fazer trapézio de vôos. Nessa época, Zé Maria, que era chamado de JM, migrou de circo, em busca de condições melhores de trabalho. O Fekete era um circo mais organizado, de médio porte. Apesar de nunca ter feito vôos, JM se vendeu como se tivesse – ainda bem que deu tudo certo. Depois do Fekete, foi para o Hingley Circo, dos Robatinos, pra fazer o cruzo com Miss Marley, no trapézio de vôos. Este era um circo grande, com banda própria, “com pau de roda e bancada enterrados”. Saindo do Hingley, foi para o Circo Norte Americano – aquele que pegou fogo em Niterói – com cerca de 40 artistas e lona de “150 redondo”. Zé Maria sente falta desse tempo em que se chegava na cidade com o circo e era uma euforia: vinha prefeito, filho de doutor, todo mundo, um bocado de gente trazia bolo, pão-de-ló, quitutes pros circenses. Além dos circos mencionados, trabalhou no Circo Sarrazany – Águia Humanas, Circo Garcia, Circo Nerino, Circo Águia de Prata, Circo Bartolo, Barnos Circus, Fumanchú Circo, Circo Geovanini, Circo Washington e Circo Vostok. Foi professor e mestre da Escola Picolino de Artes de Circo, formando diversos artistas com os seus saberes.